Ele foi definido por Shimon Peres, atual presidente do país, como o fotógrafo de uma nação em formação e viu sua carreira se desenvolver paralelamente à própria história de Israel.

O maior legado que um foto-jornalista pode deixar é um trabalho que ajude a definir determinado período na história. Neste sentido, nenhum outro fotógrafo conseguiu juntar um arquivo de fotos tão significativas e abrangentes como David Rubinger. Através de suas imagens pode-se empreender uma viagem pelos principais fatos e personagens do moderno estado judeu, sua fundação, suas lutas e seu desenvolvimento. Pelo conjunto de sua obra, foi o primeiro fotógrafo a receber o renomado Israel Prize, em 1997, diretamente das mãos do então Presidente Ezer Weizmann.

Para Rubinger, "fotografar é sentir. Algumas vezes você retrata o que vê com orgulho, outras com dor". Em sua biografia, lançada em 2008, "Israel Through My Lens: Sixty Years As a Photojournalist", conta que quando sai de casa sempre leva consigo uma máquina fotográfica, atento à possibilidade de se deparar com alguma história que valha a pena registrar. Ele relembra que esse seu hábito se iniciou em 1947, quando, ao voltar para casa, testemunhou o Irgun destruindo um edifício que abrigava os escritórios do poder mandatário britânico. "Por não ter comigo minha câmera, não pude registrar aquele momento. Desde então, nunca mais saí de casa sem levá-la a tiracolo!"

É ponto pacífico que sua carreira foi definida pela imagem captada por suas lentes no Muro das Lamentações, em 7 de junho de 1967, minutos após o Kotel ter voltado às mãos de nosso povo. Na imagem singela e significativa, três pára-quedistas postam-se ao lado do Muro. Seus nomes, apenas Zion, Itzik e Haim. Os jovens eram membros da unidade que recapturou o bairro judeu após quase 20 anos em mãos jordanianas. A foto que imortalizou aquele momento histórico, de importância maior para todo um povo, se tornou um ícone, e, seu artífice, um nome mundialmente famoso.

Sua vida: de Viena a Israel

A vida de Rubinger foi parte da tragédia, luta e vitórias vivenciadas pelo povo judeu no século 20, que ele com tanta maestria registrou.

Seus pais, Kalman Rubinger e Anna Kahane, nascidos na Polônia, conheceram-se em Viena, onde se casaram. E foi em Viena, também, que nasceu David, único filho do casal, em 29 de junho de1924. Os Rubinger eram uma família tradicional de classe média. Judeus observantes, sua vida girava em torno da família, das festas religiosas e da sinagoga. David conta em sua biografia que, com apenas cinco anos, o pai lhe colocara um professor de hebraico. Ele diz recordar-se que sua mãe, mulher doce e afetuosa, passava o dia na cozinha. Até hoje ele não esquece os aromas que exalavam da cozinha enquanto ela preparava os pratos da tradição judaica que marcaram sua infância. Seu pai, um comerciante, costumava almoçar em casa diariamente, com exceção das sextas-feiras, quando pulava o almoço para voltar para casa mais cedo, antecipando-se ao Shabat, sempre celebrado de maneira festiva. Como os Rubinger não moravam no bairro judeu, nas manhãs de sábado Kalman ia a pé até o shtiebl, como era chamada a pequena casinha que servia de sinagoga, apesar de ser muito distante de onde moravam.

Em sua biografia, David diz que ainda criança tinha plena consciência de ser judeu. Até o Anschluss, a anexação político-militar da Áustria pela Alemanha nazista, em março de 1938, os anos de escola foram relativamente tranqüilos - apesar das humilhações a que ele e outros três judeus de sua classe eram freqüentemente submetidos. Dias após a anexação, David e os outros judeus foram enxotados da escola, pois pelas novas leis raciais os judeus não podiam mais freqüentar colégios austríacos.

No mês seguinte, a vida de David sofre mais um baque. No caminho de volta para casa, seu pai é identificado como judeu é preso. Jogado em um caminhão, primeiro é levado a Dachau e, mais tarde, a Buchenwald. David e sua mãe, Anna, souberam de seu paradeiro através de um cartão postal que os presos eram autorizados a enviar mensalmente aos familiares. Anna empreendeu esforços desesperados para libertá-lo. Nessa época, os nazistas ainda permitiam a tentativa de requisição de vistos de saída aos judeus que tinham parentes no exterior e que aceitassem recebê-los. Frieda, a irmã de seu pai que morava em Londres, conseguiu obter para ele um visto de entrada britânico. Quando, em janeiro de 1939, o visto chega em Viena, Anna, de posse dos papéis, vai até a Gestapo que liberta Kalman na condição de que ele deixasse o país no prazo de duas semanas. Como as autoridades britânicas somente haviam concedido o visto de entrada para Kalman, ele se viu obrigado a deixar para trás esposa e filho. Logo que chegou à Inglaterra, o pai não mediu esforços para obter o visto para a família, mas quando finalmente estava prestes a conseguir, já era tarde - a 2ª Guerra Mundial já eclodira e todas as possibilidades de saída estavam fechadas.

Com poucos recursos, David e a mãe foram obrigados a se mudar para um apartamento de um quarto em Leopoldstadt, o bairro judaico. Na mesma época, o jovem se filia ao Hashomer Hatzair local, movimento juvenil sionista, inscrevendo-se em seguida na escola da Aliá Juvenil, onde lhe ensinaram noções básicas de algumas profissões, sendo em seguida enviado a uma escola agrícola.

Naqueles dias negros a sorte sorriu para David. Estava no primeiro grupo de jovens que a Aliá Juvenil de Viena ia enviar para Eretz Israel. E quando chegou a hora da partida, apesar de já ter eclodido a guerra, a viagem foi mantida, pois o navio que ia levar os jovens para a então Palestina ia sair de Trieste, e a Itália ainda não entrara na guerra.

Ansioso para partir, David ainda se recorda de se ter despedido rapidamente de sua mãe, na estação. Somente recentemente Rubinger soube que ela conseguiu sobreviver a duras penas, muito só, até 1942, quando foi levada para o campo de extermínio de Maly Trostenets, na Bielorrússia, onde foi assassinada.

Ao chegar à então Palestina, foi enviado para o Kibutz Beit Zera, em Haifa, onde viveu durante três anos. Assim que completou 18 anos, alistou-se no Exército Britânico. Após passar pelo treinamento militar, foi destacado para servir no 8º Exército, no norte da África, Malta e Itália. Em setembro de 1944, quando o governo britânico concordou em criar uma Brigada Judaica, formada sobretudo de judeus de Eretz Israel, David passou a servir na mesma.

Em maio de 1945, a Brigada foi transferida para o nordeste da Itália, tornando-se um dos principais agentes da "imigração ilegal" de sobreviventes do Holocausto para então Palestina. Rubinger tem ativa participação nessas operações até ser estacionado na Bélgica. Na ocasião, seu oficial superior o envia à Inglaterra, onde ele reencontra o pai que não via desde 1939. Este lhe revela que uma de suas irmãs, Bertha, e sua filha, Anni, haviam sobrevivido à Shoá e estavam de volta em Gelsenkirchen, Alemanha, onde viviam antes da guerra. David parte imediatamente ao encontro das duas. Como dezenas de milhares de outros sobreviventes, elas queriam ir para Eretz Israel, então ainda sob mandato Britânico. Para agilizar a entrada das duas parentas, decide casar com a Anni. Esse tipo de "casamento de conveniência" era muito comum entre os soldados da Brigada Judaica como meio de ajudar os sobreviventes a irem para a então Palestina. Aquele "casamento de conveniência", no entanto transformou-se numa bela união que durou mais de 50 anos, até a morte de Anni. O casal teve dois filhos, cinco netos e dois bisnetos.

Em "Israel Through My Lens: Sixty Years As a Photojournalist", Rubinger revela que sua paixão por fotografia começou, quase que por acaso, enquanto ainda estava no exército. Ganhou sua primeira câmera fotográfica de presente de uma amiga que conheceu na França durante uma licença. Pouco depois, em sua estada na Alemanha, comprou sua primeira câmera de qualidade, uma Leica, por 200 cigarros e um quilo de café. Coisas comuns, em tempos de guerra...

No verão de 1946, as autoridades britânicas decidiram dissolver a Brigada e, em novembro daquele mesmo ano, David volta para Eretz Israel, logo seguido por Anni.

David aluga um quarto em Jerusalém. Anni, já grávida, trabalhava meio-período; ele tinha um emprego no Ministério da Agricultura. Tentava aumentar a renda familiar com uns trocados que ganhava vendendo fotos para os vizinhos. A primeira filha do casal, Tami, nasceu em 18 de novembro de 1947, onze dias antes das Nações Unidas aprovarem a partilha da então Palestina. Naqueles dias era muito perigoso que um judeu andasse sozinho pelas ruas de Jerusalém, pois eram freqüentes os ataques da população árabe contra eles. Dessa forma, quando chegou a hora do parto, Anni foi levada ao Hospital Hadassah, no Monte Scopus, por um carro blindado inglês.

No dia decisão da ONU pela Partilha da Palestina, 29 de novembro de 1947, David tirou sua primeira foto profissional: jovens judeus comemorando ao redor de uma viatura do exército britânico. Conta Rubinger em sua biografia que em 1997, após localizar a maioria dos jovens que estavam na foto original, o produtor Micha Shagir reencenou a cena para um filme para a televisão israelense, e ele a fotografou.

Logo após a partilha, David juntou-se a Haganá. A tensão era grande; os judeus sabiam ser inevitável um enfrentamento com os exércitos árabes por sua sobrevivência. Na Guerra de Independência que se seguiu, ele foi promovido a oficial do recém-criado exército israelense, as Forças de Defesa de Israel. Esteve entre os defensores de Jerusalém, por pouco escapando da morte. A cidade era um lugar extremamente perigoso e Anni e sua filha sofreram bastante com os constantes bombardeios e a escassez de víveres. David relembra a luta que travara contra atiradores jordanianos da Legião Árabe postados na Torre de Davi, que acabou ficando em mãos árabes até 1967. Ironicamente, foi nessa mesma Torre que, em 1988, por ocasião dos 40 anos do Estado de Israel, Rubinger realizou sua primeira exposição individual: "Witness to an Era". Ele costuma dizer que a mostra foi um desses presentes que a vida nos dá...

No decorrer da guerra, em 1949, o exército tomou conhecimento de seu talento como fotógrafo e o destacou para uma unidade especial, o serviço de mapeamento e reconhecimento fotográfico, cuja função era fotografar posições inimigas. Como ele costuma dizer, ao invés de atirar com armas, passa a "disparar" através das lentes de sua máquina fotográfica.

Ao término da guerra, de volta à vida civil, abriu uma loja de materiais e acessórios de fotografia, na rua King David, em Jerusalém, enquanto tentava vender suas fotos para jornais e revistas. Mas, o que ele mais queria era dedicar-se à sua paixão, o foto-jornalismo. Sua grande oportunidade surgiu em 1951, quando Uri Avnery o convidou para ocupar o cargo de foto-jornalista em seu controvertido jornal, o Haolam Hazé. Ficou nesse posto até 1953, quando se integrou à equipe do diário israelense Yediot Ahronot, onde fica somente por um ano, voltando a atuar como free-lancer.

Em julho de 1953, nasceu, em Jerusalém, seu segundo filho, Amnon. O pai o fotografou quando ele tinha apenas sete minutos de vida e usou a foto como convite para o brit milá. Seu trabalho absorvia muito de seu tempo em detrimento de sua vida familiar, fato que David lamentaria anos depois.

Sua ascensão profissional tomou novo rumo quando, no ano seguinte, a correspondente da Time-Life, em Jerusalém, o convidou para fotografar uma matéria que estava escrevendo. Naquele mesmo ano a revista publicou duas fotografias de Rubinger, dando início a uma parceria que duraria meio século com uma das empresas midiáticas de maior influência no mundo.

Sua esposa, Anni, também fotógrafa e especializada em crianças, acabou largando a profissão, apesar de talentosa, e passou a trabalhar com o marido. Durante os anos de sua longa vida em comum, Anni e David compartilharam importantes momentos tanto na história de seu país como pessoal. David ficou particularmente feliz por ela estar ao seu lado quando, em janeiro de 1995, foi inaugurada, no Knesset, sua exposição de fotos intitulada: "Por trás dos bastidores do Knesset", que, de tão apreciada, acabou por se tornar parte do acervo permanente da casa. Também quando, em maio de 1997, recebeu o Prêmio Israel, a mais importante láurea concedida a um civil pelo governo israelense, e que, pela primeira vez, era entregue a um fotógrafo. O prêmio lhe foi concedido por seu talento, dedicação profissional e serviços à mídia; mas, acima de tudo, por sua devoção em registrar a história do Estado de Israel.

Infelizmente, em outubro de 1995, Anni teve um câncer e, pouco depois, constatou-se sofrer uma deficiência imunoglobulínica, provável conseqüência do período em que foi prisioneira nos campos nazistas. David não saiu de seu lado durante os cinco anos seguintes, acompanhando-a duas ou três vezes por semana quando ia receber transfusões de sangue. Em 2000, o câncer recidivou e ela faleceu, poucos meses depois.

David acreditava que os melhores anos de sua vida haviam terminado quando, em junho de 2002, conheceu Tziona Spivak, uma viúva, com a qual viveu durante dois anos e meio, até o dia em que ela 

Sua carreira

Após testemunhar o nascimento da nação, em 1948, Rubinger, como todos os israelenses de sua geração, vivenciou dez guerras e passou por inúmeros perigos. Por exemplo, durante a Guerra de Yom Kipur, em 1973, ele estava com o então chefe do Estado Maior, David Elazar, no helicóptero que casualmente sobrevoou as posições egípcias no Sinai - e quase foi atingido por um míssil, conseguindo, por muito pouco, escapar do local. Mas não sem antes conseguir registrar a imagem dos atiradores!

Cobrindo de perto a política e as guerras do país para Time-Life, Jerusalem Post e outras publicações nacionais e internacionais, Rubinger conquistou a confiança e amplo trânsito entre a liderança política e militar de Israel. Era o único fotógrafo a ter livre acesso ao restaurante dos membros do Knesset (Parlamento). No foto-jornalismo, há uma tênue linha entre o que é considerado de interesse público ou o que é invasão de privacidade, mas Rubinger nunca a ultrapassou. "Tive possibilidade de tirar fotos constrangedoras, mas minha preocupação sempre foi obter imagens de peso, significativas, sem invadir a privacidade de ninguém", diz em seu livro - o que é confirmado pela consideração e respeito que angariou junto a todos com quem teve a oportunidade de trabalhar.

Tendo feito aliá aos 15 anos, Rubinger acredita que parte de seu conteúdo profissional esteja ligado à imigração. Ele testemunhou as sucessivas ondas de aliá nas quais Israel recebeu judeus de 70 ou mais diferentes países e se considera privilegiado por ter capturado, com sua máquina fotográfica, momentos emocionantes como a chegada dos imigrantes, tendo retratado muitos deles atirando-se para beijar o tão ansiado solo da Terra Prometida, ou outras cenas que retratam as dificuldades do processo de adaptação.

Em "Israel Through My Lens", Rubinger descreve suas impressões sobre algumas personalidades com quem teve contato ao longo de sua carreira. Diz considerar-se uma pessoa de sorte por ter conhecido Ben Gurion. Fotografou-o muitas vezes, sem se deixar impressionar por sua presença autoritária. O legendário líder era um "leão", uma personalidade na qual conviviam o grande estadista pragmático, o visionário e o humanista.

Ao se referir a Teddy Kollek, afirma tratar-se de um dos líderes mais carismáticos que fotografou, amado por todos que com ele lidaram. Conhecido principalmente por ser o dinâmico prefeito de Jerusalém, permaneceu 28 anos no cargo. Dedicou sua vida a desenvolver a cidade não apenas geograficamente, mas também no aspecto social e tinha a habilidade de persuadir pessoas de fama internacional para se engajarem em seus empreendimentos. Foi Kollek quem convenceu Marc Chagall a ir a Jerusalém para fazer o trabalho das tapeçarias do Knesset e desenhar os mosaicos dos pisos, e foi ele, também, quem convidou Rubinger para fotografar Chagall enquanto eram instalados os 12 vitrais que o artista fez para o Hospital Hadassah.

Rubinger foi o fotógrafo que acompanhou praticamente todos os líderes israelenses em missões ao exterior. Fez parte da comitiva do então primeiro-ministro Menachem Begin em sua histórica visita ao Egito, em 1977. E, quando o primeiro-ministro convidou Sadat a visitar Israel oficialmente, lá estava ele como membro da comitiva oficial. A Time lhe conseguiu uma lente de 800 mm para tirar boas fotos a grandes distâncias. Ele se recorda de que quando o avião pousou, viu através das lentes a cena que considera uma das mais emocionantes de sua vida profissional: a porta do avião se abriu e Sadat surgiu sorridente, parou e acenou para a multidão. Foram momentos inesquecíveis, especialmente quando o presidente egípcio, à época o inimigo mais ferrenho de Israel, saudou a bandeira do Estado de Israel.

Como o escritório central da Time-Life era em New York, Rubinger costumava ir freqüentemente aos Estados Unidos. Numa dessas visitas, esteve em Camp David na ocasião em que Carter oferecia um jantar de Shabat para Menachem Begin e outros convidados e se lembra de ter fotografado Carter usando uma kipá. Registrou também o primeiro acordo firmado em Washington entre Begin, Sadat e Carter. E quando o Prêmio Nobel da Paz foi entregue a Shimon Peres e Yitzhak Rabin, em 1994, lá estava Rubinger em Oslo, na Noruega.

Em seus 60 anos de carreira, assistiu a momentos do cotidiano de inúmeras personalidades, que captou com sua sensibilidade, como por exemplo, quando estava com o ex-primeiro-ministro Ariel Sharon e sua esposa Lili; ou com o ex-secretário de Estado norte-americano Henry Kissinger e sua esposa, Nancy.

O ato de fotografar pessoas em seu dia-a-dia exige paciência e, principalmente, experiência, ele revela em seu livro. Ao retratar pessoas, o fotógrafo se depara com três situações diferentes: "A primeira, quando elas são cooperativas, posam e querem agradar; a segunda, quando odeiam o fotógrafo, que julgam estar perseguindo-as o tempo todo; a terceira - e a ideal - é quando desistem de fugir e simplesmente o ignoram. É quando surgem as melhores fotos". Ele lembra como certa vez passou sete dias com Golda Meir, na época ministra das Relações Exteriores, para preparar uma reportagem para a revista Time-Life. O objetivo era mostrar as duas facetas de Golda: a avó e a estadista. "Quando finalmente chegamos à "terceira fase" consegui a melhor foto de Golda Meir. Eu estava no chão, quase deitado sob a mesa da cozinha da ministra, enquanto ela dava comida ao neto. Eu jamais conseguiria tirar aquela imagem no primeiro dia... É preciso tempo para criar um relacionamento descontraído".

Extremamente consciente da importância de organizar um arquivo para preservar a história, que, como diz, teve o privilégio de vivenciar, Rubinger criou uma das mais importantes coleções de fotografias do mundo, com mais de 500 mil imagens. "Desde que comecei a fotografar sempre cuidei muito bem dos meus negativos, pois acredito ser grande a responsabilidade que os fotógrafos devem ter com suas fotos. Muitas vezes, uma delas que parece não ter importância, anos depois é vista sob outro prisma". Mesmo após ter vendido seu arquivo, continuou tirando fotos; e se encontrava algo interessante para o jornal enviava a imagem para ser incluída no acervo. Em 1999, ele vendeu seu arquivo para o Yediot Ahronot, um dos maiores jornais de Israel, porque sabia que seria de muita utilidade para o jornal.

A foto mais conhecida, sua "assinatura"

Sorte. Estar no local certo no momento certo. Intuição. Vários elementos talvez expliquem as razões que levaram Rubinger a Jerusalém no dia 7 de junho de 1967. Até algumas horas antes de tirar a foto que ele mesmo define como "sua assinatura", ele estava a quilômetros de Jerusalém, acompanhando o exército ao longo da fronteira com o Egito. Foi no terceiro dia da guerra que, de repente, ouviu rumores de que "alguma coisa estava 'em banho maria', em Jerusalém". Seguindo seu instinto profissional subiu, sem a menor hesitação, em um helicóptero que levava soldados feridos para Beersheva, e de carro foi para Jerusalém. Após correr para casa para se assegurar de que a família estava bem, seguiu a pé até o local dos combates.

Em sua biografia, "Israel Through My Lens: Sixty Years As a Photojournalist", David conta que entrou na Cidade Velha 15 minutos após os pára-quedistas terem libertado o Kotel. "O espaço era muito estreito entre o muro e as casas que estavam na frente, apenas uns 3 metros. Eu estava deitado no chão em busca do melhor ângulo para fotografar. Então, vi os três soldados andando... A cena com que me deparei era pura emoção. Ao nosso redor, as pessoas choravam de alegria, e enquanto eu batia as fotos, as lágrimas rolavam pelo meu rosto, quentes de incontida emoção".

Vinte minutos depois, Shlomo Goren, Rabino Chefe das Forças Armadas, entra na atual Esplanada do Templo tocando shofar e carregando um Sefer Torá.Os soldados o carregaram nos ombros. Conta Rubinger: "Eu pensei: está é a minha grande foto. Lagrimas ainda escorriam no meu rosto quando a bati. Então voltei para casa. Meu filho Ami lembra muito bem desse dia porque quando cheguei em casa eu ainda estava chorando. Revelei o filme e mostrei todas as imagens para Anni. E lhe disse: 'Olhe esta foto fantástica do rabino Goren'. E ela me respondeu que a dos três soldados era muito melhor. Então retruquei: 'são apenas três soldados'. Mas ela estava certa! Não sei se foram as exaltadas emoções daquele dia o que fez com que a foto dos três pára-quedistas se tornasse tão famosa, mas sei que a foto se tornou um ícone em Israel; sem dúvida, a minha foto mais conhecida, a "minha assinatura", como gosto de chamá-la".

Rubinger cedeu ao exército um negativo da foto. "O exército encaminhou-o à assessoria de imprensa do governo, que começou a distribuição de cópias por um preço muito baixo. Imediatamente pessoas de todo o mundo começaram a fazer cópias piratas". Confessa que inicialmente ficou aborrecido, mas atualmente diz estar grato, pois foi dessa forma que a foto se tornou famosa no mundo todo. Mas, quando lhe perguntam se considera essa foto a melhor que já tirou, responde que não. Acredita que o que a tornou tão significativa foram as circunstâncias em que foi batida, e foi isso que fez com que emergisse como o símbolo com que tantas pessoas se identificam.

Ao fazer um retrospecto de sua vida no livro, Rubinger diz considerar-se um homem de muita sorte. Passou ileso por dez guerras e sobreviveu a inúmeras outras situações de risco. Atingiu o pico da profissão de fotógrafo e é mundialmente reconhecido. Tem acesso a muitos líderes mundiais e a personalidades fascinantes, orgulha-se de sua família, que lhe deu dois filhos, cinco netos e dois bisnetos. Resumindo, considera-se um afortunado e diz que o segredo de uma vida realizada é viver cada dia como se fosse o último, mas sempre planejar o futuro como se houvesse amanhãs sem fim...